sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vermelho e preto, azul, branco.

Hoje lembrei da moça morena que passava, trajando uma blusa listrada, horizontalmente nas cores vermelha e preta, usava óculos, tinha os cabelos curtos, negros com mexas acastanhadas. Passou por mim e quase sorriu. Não durou 2 segundos.
Depois que olhei pra tal moça morena, vi outra moça, mais baixinha agora, parecia ir para o trabalho. Uma bolsa carregava aos ombros, usava uma blusa azul, gola pólo, calça jeans. Ela certamente não me viu.
Aí reparei no cara que havia descido junto comigo do ônibus caminhando ao meu lado, apressado. Mexia no celular, andava rápido e usava uma camiseta branca. Levava uma mochila nas costas. Ele me viu, mas não escreveria sobre mim.
O que a moça da blusa azul carregava na bolsa ? Será que era maquiagem, contas a pagar, cartas de amor. O que ela tinha feito antes de descer do ônibus? Onde ela morava? Eu não sei. Assim como não sei para onde a moça da blusa listrada caminhava, nem tenho certeza se o cara que tinha uma mochila estudava.
São muitos rostos, muitas vidas, muitas bolsas, muitas mochilas. Um ou outra famosa, mas tantas desconhecidas. 
Onde está a vida de quem não se conhece ? Na bolsa da moça de azul ? Na Mochila do cara de branco? Sabe lá a carga que lá havia! Quantas histórias, quantas pessoas, quantos lugares...
Será que eles gostavam de joaninha como eu ? Será que escreviam ? Foi um dia tão normal, não fossem as três pessoas que eu observei, por menos de dois segundos.
Será que os sentidos são iguais? Será que a dor é dor, a cor é cor, o prazer é o prazer. Que fisiologia maluca essa dos corpos iguais e diferentes. De sentidos, de sentimentos, de moral. Moralidade, imoralidade, quem te inventou?
A moralidade que não me permite conhecer todos os corpos, todos os gostos, todos os prazeres, todos os toques, tantas e tantas coisas. São tantas que nem conheço! 
E se a menina da bolsa azul tiver uma história fabulosa? Ninguém nunca poderá descobrir. A não ser que espere por ela na parada de ônibus.
Mas eu não lembro a hora, nem se ela costuma ir lá. A verdade é que ninguém sabe de nada!
Que somos nós neste vasto universo? Nem o chaveiro da bolsa da moça! Nem o parafuso do óculos da que vestia blusa listrada. Muito menos o celular do cara de branco.
Eu gostaria de ter uma mochila universal. De onde eu pudesse sacar tudo aquilo que quisesse descobrir. Pudesse sentir todos os sabores, todos os cheiros, todas as características de nossos sentidos. Cada uma delas, de cada ser. Não é possível que sejam iguais!
É aquela impressão de não ser quem se vê no espelho. A impressão de que só você sabe temperar o feijão daquele jeito. Somos todos impressões de nós. E impressões dos outros.
É só isso, tão simples, tão insignificante. Somos seres microscópicos.
Ainda da mochila gostaria de poder saber de todos, de cada história, cada prostituta, cada diplomata, cada presidente, cada mendigo. Sentem-se do mesmo modo?
Será que o mendigo sente o mesmo tesão que o diplomata? Será que a nossa excitação é igual? O mesmo arrepio?
Independendo de paixão ou amor: O gosto da língua, é igual ?

Eu só queria a mochila universal. De lá poderia sacar quem quisesse. Beijar, tocar, assassinar. Cometer as loucuras e os crimes que por vezes sublimamos. E como a mochila seria minha, quem poderia então me incriminar? Ninguém poderia fazê-lo por eu ter sacado algo de minha própria mochila algo meu.
 Ali, meu mundo ambulante repleto de tudo e de todos. Da moça de azul, do cara de branco, da morena de blusa listrada...

2 comentários:

Anônimo disse...

São tantas vidas diferentes que as vezes a gente se perde...

Unknown disse...

Hoje é 3 de maio. Quando abri seu blog o post da página era aquele de ontem, em versos. Mas não resisti em vir te ler em prosa, gosto tanto da prosa que você faz, e da eu que eu faço também. Em seus versos você joga com as palavras, em sua prosa com os sentimentos e suas respectivas pessoas. Que nem eu.
Análise à parte: Sim. somos tantos num mundo tão pequenos que vivemos nos esbarrando por aí e ainda assim fica por isso mesmo, o cara ao celular é só o cara ao celular, e você para ele só a menina que desceu do ônibus. Tanto faz, talvez nunca mais se vejam, ou talvez vocês se esbarrem de novo e ele acabe sendo o pai dos seus filhos. Mundo pequeno esse nosso, somos tanto para tão pouco...