quinta-feira, 31 de maio de 2012

nostalgia

Não queria que estivesse ali parada, sem fazer com que nada sentisse. Sua indiferença o deixava agoniado, prestes a ter um ataque, esperando que no mínimo fizesse alguma coisa, mesmo que errada. Podia dizer "oi" ou  "esquece". Seria menos agonizante do que ter de observá-la com seus anéis em formatos de répteis, sentada num bar, sozinha. Entornava algumas cervejas e parecia pensar em algo engraçado. Às vezes sorria sozinha, mordia os lábios, nunca olhava pra baixo.Os cabelos amarrados. Um penteado esquisito, mas que as amigas dela adoravam. Pensando bem, aquilo devia ser um técnica muito boa, porque o soltar de suas madeichas era algo que mexia com qualquer que passasse. O celular tocou e ela fez que não viu. Mais um gole. As unhas criavam ritmos diferentes quando em contato com  a mesa de madeira, úmida, das gotas do copo. Cruzou e descruzou as pernas. Será que ela o tinha visto? Estava sozinha e não olhava pra porta, o que o fizera concluir que ela não esperava por alguém. Ouvia um rock antigo e às vezes se movia na cadeira. 

Colocava e tirava os sapatos, num movimento leve, e que fizera lembrar que ela tinha uma pinta no pé, e que também sentia cócegas. Observou que mudara a maquiagem e que nunca a tinha visto com aquele casaco de couro avermelhado. E só depois de lembrar que ela tinha uma pinta no pé, reparou que usava um salto tão fino, que atravessaria qualquer osso se fincado com especial força. Aquilo era uma arma, pensou, e riu sozinho. Enfim, ela nunca tinha usado aquilo. Começava a pensar que era assim mesmo, que algum tempo já havia se passado, e levado consigo os gestos antigos, bem como os vinis, as fotos, as cartas... 

Observou mais um pouco, conformando-se com as diferenças e com a indiferença. Enquanto isso ele pedia a saideira, porque a moça que ele esperava, sequer avisou por que não fora. 
Antes de sair, na porta do bar, ele olhou pra trás e vira que ela atendera o celular. 
Ela sorria, como ele sempre imaginou que ela sorria quando dizia sentir saudades.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Plangor

Abra esses olhos pra pele nua ao teu lado. Observe a maciez.
Refine seus sentidos examinando o que é formoso e te desperta libido.
Sinta prazeres.
Consiga deslizar pelo próprio suspiro, que bate ao pescoço
e retorna às próprias narinas.
Ofegante.
Crê naquilo que faz ao cerrar os olhos, pela textura, pelo sabor,
pela saliva e pelos odores que infestam  o ambiente.
Paredes e Lençóis.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

noiva

Naquela paisagem conhecida das telas, repleta de sorrisos, e fotos, e gente. Tudo que mais gosta.
Diante das estonteantes construções da cidade tomada pela água.
Das máscaras. Dos Muranos coloridos. Da história, dos filmes que ali se passaram.
Ali, diante dos sonhos de muitos outros,
aceitou ser feliz.

estrela

Não gosto de poemas frondosos, adjetivados por demais. Gosto da coisa sincera, do verso simples, dos jogos de palavras. Nada de comparações astrônomas. Mas não reclamarei de ser estrela um dia.

vontade de escrever

inerte a mão durante o tempo
devido ao não preenchimento
da caixa mestre do humano
que produz o pensamento

homem acéfalo não sabe
que faz aquilo que o outro quer
nada escreve, nada lê
Outro vai e dá no pé

pois escrevo minha gente
que ignorância não há,
tem música por aí
que é capaz de explicar

...tem gente que não é burra
tem preguiça de pensar!