quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Eu passo





Há dias em que espero o tempo passar, na esperança de que ele leve consigo a dor, a tristeza, tudo aquilo que não me apraz. Todas aquelas partes que  não são minhas, mas às vezes se aproveitam de mim para que possam se manifestar. Usam minhas partes fracas, criadas por outras partes fracas e que multiplicam-se criando legiões.
Há dias em que espero o tempo passar, na esperança de que ele traga consigo a alegria, o bom temperamento, a paciência, tudo aquilo que me apraz. Todas aquelas partes que também não são minhas, mas às vezes se aproveitam de mim para que possam se manifestar. Usam minha partes fracas, criadas por outras partes fracas e que multiplicam-se criando legiões.

Há muitos dias em que o tempo passa, mas há dias em que eu passo pelo tempo.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Havia um tigre.

Certa noite sonhei com centenas de túmulos. Todos eram meus, de alguma parte de mim. Uma parte não física, eram partes de legiões e de seres que me habitam. Cada ser ia visitar seu túmulo, cavava, cutucava e algo tentava recuperar. Todos usavam fantasias. Havia uma parte Kill Bill, outra urso panda. Algumas partes se engalfinhavam, outras se auxiliavam e de repente, num cemitério cheio de grades, havia terra pra todo lado. Partes fantasiadas a perder de vista. E lembrei do sonho anterior, em que eu cuidava de um tigre como se fosse um gato. Acariciava, dava comida na boca, andava pela casa. E lembrei também que o Tigre guardava minha casa, cercada de grade.
Onde estava o tigre, que não protegeu minha casa dessas partes fantasiadas que tudo foram bagunçar? Mexendo em túmulos e espalhando terras pra todo lado, sabendo que delas nada se podia salvar!?
Acho que o Tigre não adormece, mas às vezes sai pra passear...

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sol e Verão. Noite e Constelação.

A tarde já estava laranjada, sol de verão.A grama, o ar, a terra, o asfalto, sol de verão. As mãos se entrelaçavam quase sem querer. Sentiam-se, enquanto as mãos deixavam as frestas laranjadas lhe atravessarem. Devagar, quase em câmera lenta. Ao passo que suas mãos se encontravam, os corações aceleravam. Sequer estariam ali,  não fosse o sol do verão. O laranjado foi sumindo, sumindo... Seus olhos cerraram-se. Nem viram o laranja sumir entre as nuvens. Então, daquele jeito clichê, as coisas pararam. Dentro de si. O murmurinho, a água do rio, as conversas paralelas. Ninguém percebia o que acontecia naquele momento. As mãos se juntaram, assim como os lábios, os rostos. O cabelo dela caindo sobre o rosto dele. Liso, escorria-lhe da mão e o fazia rir. Por ora o irritava, cabelos e beijos, que combinação! Ao mesmo tempo, que sentimento era aquele? Era só mais uma menina, não era? Por que tudo parara? Peraí, peraí, não podia estar apaixonado! Então o coração antes acelerado começara a saltar pela boca. Que susto! Preferiu parar. Respirou. Abriu os olhos. Que alívio! O laranjado virara um negro, com alguns prateados brilhantes. Mas as constelações, viu refletidas nos olhos escuros mais bonitos. O coração se acalmou. Talvez não fosse só mais uma garota...



Qualquer semelhança não é mera coincidência.


sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ainda bem

E quando de repente penso que fica
Vem o mar e lhe tira
Ainda bem
Que mesmo mar te traz

E quando de repente penso que fica
Vem todo azul e lhe tira
Ainda bem
Que o mesmo azul te traz

E quando de repente penso que vais
Abro bem os olhos
Cruzo bem os dedos. Tranco bem os dentes, quase por não aceitar.

Ainda bem
Que todo IR é pouco
Quando se quer SER e ESTAR.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Encontrar

Há tardes em que me vejo mergulhada na alma de um viajante.

Passo por mil lugares, observo muitos olhares. Em alguns me encontro, noutros não.

São muitos os tons de amarelo, vermelhos, laranjas e azuis. Alguns refletem meus sentidos, outros nem tanto.

São odores, texturas, sabores. Alguns gravados, registrados e memoráveis. Outros só de vez em quando.

Porém, entre tantas indas e vindas, de qualquer lugar não sei pra onde, vejo as flores florindo, a chuva chovendo e o vento ventando...

Vento que leva de qualquer lugar, para um lugar de encontro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Involução

Então, depois de tudo, resta dizer que havia um antes. E nesse antes, antes passado, hoje particípio, faz-se presente em mim o que eu tenho sido.
O que se passa por dentro, só se passa porque é dentro. E passa, quando for fora.
E se não passa, passam muitos por mim.
Eis a involução.

E se quem com ferro fere, fere e não confere, ou confere mas não vê,
com ferro será aferido.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

quinta-feira, 31 de maio de 2012

nostalgia

Não queria que estivesse ali parada, sem fazer com que nada sentisse. Sua indiferença o deixava agoniado, prestes a ter um ataque, esperando que no mínimo fizesse alguma coisa, mesmo que errada. Podia dizer "oi" ou  "esquece". Seria menos agonizante do que ter de observá-la com seus anéis em formatos de répteis, sentada num bar, sozinha. Entornava algumas cervejas e parecia pensar em algo engraçado. Às vezes sorria sozinha, mordia os lábios, nunca olhava pra baixo.Os cabelos amarrados. Um penteado esquisito, mas que as amigas dela adoravam. Pensando bem, aquilo devia ser um técnica muito boa, porque o soltar de suas madeichas era algo que mexia com qualquer que passasse. O celular tocou e ela fez que não viu. Mais um gole. As unhas criavam ritmos diferentes quando em contato com  a mesa de madeira, úmida, das gotas do copo. Cruzou e descruzou as pernas. Será que ela o tinha visto? Estava sozinha e não olhava pra porta, o que o fizera concluir que ela não esperava por alguém. Ouvia um rock antigo e às vezes se movia na cadeira. 

Colocava e tirava os sapatos, num movimento leve, e que fizera lembrar que ela tinha uma pinta no pé, e que também sentia cócegas. Observou que mudara a maquiagem e que nunca a tinha visto com aquele casaco de couro avermelhado. E só depois de lembrar que ela tinha uma pinta no pé, reparou que usava um salto tão fino, que atravessaria qualquer osso se fincado com especial força. Aquilo era uma arma, pensou, e riu sozinho. Enfim, ela nunca tinha usado aquilo. Começava a pensar que era assim mesmo, que algum tempo já havia se passado, e levado consigo os gestos antigos, bem como os vinis, as fotos, as cartas... 

Observou mais um pouco, conformando-se com as diferenças e com a indiferença. Enquanto isso ele pedia a saideira, porque a moça que ele esperava, sequer avisou por que não fora. 
Antes de sair, na porta do bar, ele olhou pra trás e vira que ela atendera o celular. 
Ela sorria, como ele sempre imaginou que ela sorria quando dizia sentir saudades.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Plangor

Abra esses olhos pra pele nua ao teu lado. Observe a maciez.
Refine seus sentidos examinando o que é formoso e te desperta libido.
Sinta prazeres.
Consiga deslizar pelo próprio suspiro, que bate ao pescoço
e retorna às próprias narinas.
Ofegante.
Crê naquilo que faz ao cerrar os olhos, pela textura, pelo sabor,
pela saliva e pelos odores que infestam  o ambiente.
Paredes e Lençóis.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

noiva

Naquela paisagem conhecida das telas, repleta de sorrisos, e fotos, e gente. Tudo que mais gosta.
Diante das estonteantes construções da cidade tomada pela água.
Das máscaras. Dos Muranos coloridos. Da história, dos filmes que ali se passaram.
Ali, diante dos sonhos de muitos outros,
aceitou ser feliz.

estrela

Não gosto de poemas frondosos, adjetivados por demais. Gosto da coisa sincera, do verso simples, dos jogos de palavras. Nada de comparações astrônomas. Mas não reclamarei de ser estrela um dia.

vontade de escrever

inerte a mão durante o tempo
devido ao não preenchimento
da caixa mestre do humano
que produz o pensamento

homem acéfalo não sabe
que faz aquilo que o outro quer
nada escreve, nada lê
Outro vai e dá no pé

pois escrevo minha gente
que ignorância não há,
tem música por aí
que é capaz de explicar

...tem gente que não é burra
tem preguiça de pensar!