quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Era uma vez...

Tem sobrevivido pacientemente a esse dilaceramento do peito e ao desconhecimento da figura refletida no espelho. Que já não se pergunta mais sobre ser a mais bela. Não é. Já não se preocupa mais em ser única. Não é. Só se preocupa com o que importa: querem comer seu coracao!
Isso sim, seria tragédia. Uma morte lenta, arrancá-lo com a faca, despedecar, cavar-lhe até o mais profundo sentimento. Arrancar-lhe, sem dó.

Olha as vísceras, o sangue, e ainda sim deseja comê-lo. Sem saber o amargo sabor do orgão responsável pelas mortes mais galopantes e inesperadas.
Destrói, mata.

Ou, engana a si próprio com o coracão de um animal da floresta.
O coracao do reflexo do espelho, daquela que é a resposta, deixa simplesmente partir, sendo levado no corpo que lhe pertence, livre como deveria ser. Mas com um medo. Sabe que a imagem que pergunta quer o coracao da que reflete. Provavelmente, se não comer o coracao morrerá pro trair a si mesmo.
Contraditório em certos casos.
Comer o coracao daquele reflexo seria o mesmo que quebrar o espelho e deixar de ver.
O que seria também o melhor, mas o equivalente em matéria de contradicao.

Deixe o coracao partir, intacto.
Se matar agora, o reflexo não existirá para que o príncipe o desperte de um sono profundo.
Sem sonhos.
Só sono.

É preciso acordar.
Mas o sono deve ter sido suficiente para que se acorde disposto.

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